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Paradise

Nos anúncios publicitários, somos bombardeados com ideias de que “basta tentar que você consegue”, afinal, vivemos numa época em que tudo é possível, não é? A sociedade é uma máquina que não para, estamos constantemente nessa pressa de alcançar algo (que muitas vezes nem sabemos o que é). Vendo tudo isso, parece que a vida não tem pausa, que estamos constantemente em um ciclo em que parar não parece ser viável. Por isso, influenciados por essa pressão, muitas vezes corremos infinitamente atrás de sonhos que não são nossos e nem temos tempo de rever essas “escolhas”. Afinal, está todo mundo nessa loucura de ser constantemente produtivo porque o sistema nos move dessa forma.

Análise

Bem, é desse ponto de partida que iniciaremos a análise da canção Paradise, presente no álbum "Love Yourself: Tear":

Maratona, maratona
A vida é longa, vá devagar
42.195
No final, é tudo cheio com um paraíso de sonhos

Para nos situar, o BTS nos coloca diante de uma primeira imagem: uma maratona. E por que essa escolha? Bem, 42.195 (km) representa a extensão de uma maratona. Longa, não é? O que mais é longa, cansativa e com um destino final? Isso mesmo, é a vida. Dessa forma, vemos que eles comparam a trajetória humana a uma maratona que, ao fim, está repleta de um “paraíso de sonhos” – que tem a ideia de “depósito”.

Mas o mundo real
É diferente do que foi prometido
Nós temos que correr, nós temos que pisar no acelerador,
Quando a pistola sinalizadora lança o sinal,
Você nem mesmo tem um destino,
E não há nem mesmo um cenário
Quando você fica tão sem fôlego,
Você precisa, você precisa

Neste pré-refrão, há uma quebra com o que foi mostrado primeiramente. Pois a vida real, como eles dizem, é diferente do que deveria ser... É muito distinta daquelas imagens que normalmente temos na infância em que, muitas vezes, queremos logo chegar à “fase adulta”. Chega um momento da vida em que somos levados a correr, isto é, estudar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e morrer, sem uma “pausa” ao meio e, muitas vezes, sem tempo de rever as nossas decisões (que muitas vezes nem são tomadas por nós mesmos). Em: “Você nem mesmo tem um destino, / E não há nem mesmo um cenário” Mostram como essas coisas são impostas a nós mesmos, e que não conseguimos nem aproveitar o nosso redor, isto é “o cenário”.

Está tudo bem em pausar
Não há necessidade de correr sem saber a razão
Está tudo bem em não ter um sonho
Desde que hajam momentos que você brevemente sinta felicidade

O refrão traz um choque de realidade, é aquele amparo que precisamos, é aquele toque nas costas que quer dizer que “está tudo bem”, pois não existe forma correta ou errada de viver essa vida. Você não precisa ter grandes sonhos para viver desde que você seja feliz, mesmo que por um breve momento.

Está tudo bem em pausar
Nós agora não corremos sem saber o propósito
Está tudo bem em não ter um sonho
Toda respiração que você exala já está no paraíso

Vale destacar o final dessa parte que também compõe o refrão, pois nela temos uma diferença entre os paraísos. O verso da primeira estrofe “No final, é tudo cheio com um paraíso de sonhos” , distancia o paraíso de nós, como algo que está para ser alcançado – pela forma que nos impõem a correr para buscá-lo. Já no refrão, neste verso: “Toda respiração que você exala já está no paraíso”, mostra-se que o paraíso, na verdade, está dentro de nós mesmos e que não é algo que precisamos correr infinitamente para consegui-lo.

Os versos que vêm a seguir na canção, de RM, SUGA e j-hope são como conselhos que cada um dá e suas experiências com os “sonhos” durante a vida.

Nós sonhamos através dos outros (como dívidas)
Nós aprendemos que temos que nos tornar grandes (como a luz)
Seu sonho [é], na verdade, um fardo
Se o futuro é o único sonho,
Então o que era a coisa que eu sonhei noite passada na cama?
Está tudo bem que seus sonhos tenham diferentes nomes
[Ou] comprar um notebook no próximo mês,
Ou apenas comer e dormir
Ou não fazer nada mas ter muito dinheiro
Sonhar não precisa ser algo grandioso
Você pode apenas se tornar alguém
Nós merecemos uma vida
Seja ela grande ou pequena, você ainda é só você, [no final]

Dito isso, RM quer nos mostrar, por meio desses versos, que todos os sonhos são válidos. E mesmo não ter um sonho é algo válido, diferentemente daquilo que somos levados a acreditar ao ver pessoas apressadas o tempo inteiro. Viver, por si só, já é algo grandioso e que, para muitos, isso só basta. Não vale a pena desperdiçar sua vida vivendo o sonho de outras pessoas, como está no verso 1.

Eu não tenho um sonho
Às vezes tenho medo de sonhar
Apenas viver assim
E sobreviver dessa forma, esse é um pequeno sonho pra mim
Sonhar um sonho, agarrar o sonho
E respirar, às vezes, é muito pra mim
Dizer: “Alguns vivem assim, outros vivem daquele jeito,”
O mundo derrama maldições em mim

Já nos seus versos, SUGA lança mão de experiências pessoais ao dizer, por exemplo, que ele não tem um sonho. Nessa ideia, ele traz uma perspectiva de vida de apenas “levar as coisas”, e que está tudo bem em ser assim. Ter um sonho, como está presente nos versos de RM, pode ser um “fardo”, à medida que sacrificamos muito de nós mesmos para conquistá-los, e isso é visto nesses versos de SUGA.

Sim
O mundo não tem nenhum direito de me amaldiçoar
Nunca nem mesmo me ensinaram a sonhar
Porque é um sonho inventado, você dorme e fala em lágrimas [um sonambulismo de lágrimas]
Eu te acordo do pesadelo por você
Agora vamos sorrir todos os dias naquele paraíso

Nos versos de j-hope, temos ideias muito interessantes. Primeiramente, em “nunca nem mesmo me ensinaram a sonhar”, mostra a ideia de uma MECANIZAÇÃO social. Isto é, uma sociedade robotizada que vive apenas para produzir, produzir e produzir. O que seriam “sonhos” nessa sociedade senão uma gasolina para manter o sistema funcionando? Você não tem tempo para escolher um sonho, você só precisa fazer a engrenagem girar. Nessa ótica, esses versos parecem ser prelúdios de toda a ideia da canção DIS-EASE, do álbum BE, que trata dessa produtividade.
Segundamente, temos um jogo de ideias: PESADELO em contraposição ao sonho. É aqui que j-hope faz uma bela metáfora, a qual diz que ele nos acordará do “pesadelo”, ou seja, dessa realidade absurda que nos coloca como menos do que seres humanos. Ao acordar, isto é, ao finalmente notar que a vida não precisa ser assim é que finalmente podemos “sorrir no paraíso”. Novamente, perceba, o paraíso que está dentro e não longe de nós.

Pare de correr por nada, meu amigo
Agora pare a estúpida corrida
Pare de correr por nada, meu amigo
Cada respiração que você exala está no paraíso
Pare de correr por nada, meu amigo
Você não tem que sonhar o sonho de ninguém
Pare de correr por nada, meu amigo
Todas as línguas que o fazem já estão no paraíso

Finalizando a canção, temos essa espécie de mantra que, ao retomar a maratona, nos manda “parar de correr sem razão”. Ei, o paraíso não está ao fim da corrida, mas sim no agora, nesse exato momento, enquanto vivemos. Em conclusão, Paradise nos ensina que não existem formas “mais corretas” de viver. O mundo, na verdade, é que tenta nos convencer do contrário. A vida é única e o tempo é algo que não volta, por isso que vale a pena “pausar” e tentar se questionar “será que o que estou fazendo é o suficiente para mim mesmo?”, não pelos outros, mas por você. Esse é um exercício que o grupo quer que tomemos para vivermos o melhor possível.

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